2 de outubro de 2023

Como é a cultura do café no Cazaquistão?

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Localizado na Ásia Central e parcialmente na Europa Oriental, o Cazaquistão é o nono maior país do mundo em área terrestre. Apesar de seu tamanho, no entanto, o país tem uma das menores densidades populacionais do mundo, com menos de seis pessoas por quilômetro quadrado.

Historicamente, o Cazaquistão é uma nação que bebe chá – o que é amplamente atribuído à influência russa. Mas nos últimos anos, o consumo de café também tem aumentado. Segundo a Statista, o mercado de café do país crescerá 6,58%, em relação ao ano anterior, até 2025. Além disso, desde 2020, o mercado para torrefações Cazaquistão também tem aumentado – e espera-se que supere as vendas de café instantâneo nos próximos dois anos.

Desde que se tornou independente em 1991, o país experimentou um rápido crescimento econômico – em grande parte, graças a um enorme aumento em suas exportações de petróleo e gás natural. E à medida que sua classe média cresceu, mais pessoas começaram a consumir café de alta qualidade por lá.

Mas quão popular a cultura de cafés especiais do Cazaquistão poderia se tornar na próxima década? Conversei com vários profissionais de café locais para descobrir.

Você também pode gostar do nosso artigo sobre se o Nepal produzirá mais cafés especiais no futuro.

Fachada de uma cafeteria Cazaque

Uma breve história do café no Cazaquistão

Stanislav Tyan é o proprietário da Massimo Coffee Roasters em Almaty – a maior cidade do Cazaquistão. Ele também é um Q grader certificado. Segundo ele, é difícil saber exatamente quando o café chegou ao país. “Mas acredita-se que os comerciantes árabes e turcos provavelmente nos trouxeram café através da Rota da Seda”, diz.

A Rota da Seda era uma rede de rotas comerciais entre a Europa e a Ásia, que ficaram ativas até meados do século XV. 

“Quando o Cazaquistão ainda fazia parte da União Soviética, os cafés da Índia estavam disponíveis para compra, mas eram considerados uma mercadoria altamente valorizada”, acrescenta. “Costumávamos comprar café instantâneo que vinha em uma lata de metal, mas para a maioria das pessoas, era difícil. Era preciso ter boas conexões para comprar café.”

Avançando rapidamente para o final dos anos 2000 e 2010, quando isso começa a mudar. Após o rápido crescimento econômico do país, mais e mais redes de café começaram a abrir no Cazaquistão. Entre elas estão:

  • Gloria Jeans’ Coffee;
  • Shokoladnista
  • Traveler’s Coffee;
  • Costa Coffee;
  • Starbucks.

Durante esse período, ficou claro que o café estava se tornando cada vez mais acessível a mais pessoas e que estava se popularizando. Essas cafeterias se tornaram espaços importantes para as pessoas se encontrarem e socializarem – um sinal de que o “terceiro lugar” estava se tornando mais proeminente na cultura do café cazaque.

De onde vem o café que chega ao Cazaquistão?

Conforme o Bureau of National Statistics do Cazaquistão, o país importou cerca de 1.900 toneladas de café em 2021 – a maioria dos quais são produtos torrados ou solúveis exportados de outros países, em vez de café verde para ser torrado no próprio Cazaquistão. Mas isso ainda representa um aumento meteórico de 18,9% em relação ao ano anterior – mostrando que o consumo de café está crescendo a um ritmo acelerado.

Durante 2021, o Cazaquistão importou cerca de 1.200 toneladas de café torrado da Rússia, a maioria dos quais eram produtos de café instantâneo. Outros grandes exportadores para o Cazaquistão incluem Itália, Brasil, Holanda e Alemanha.

Barista preparando café num coador Hario V60

Tendências de consumo emergentes

Assel Suleimenova e Zhemis Nurzhanova são sócios do Bar Espresso de Nurba em Nur-Sultan. De acordo com eles, espressos, cappuccinos e americanos são as três bebidas mais pedidas. “Usamos principalmente o arábica brasileiro torrado escuro, bem como o robusta torrado localmente, mas estamos procurando obter outros cafés no futuro”, afirmam.

Embora os produtos de café instantâneo, bem como os concentrados, ainda sejam muito populares no país, a cultura do café do Cazaquistão está lentamente adotando o café especial.

Uma cena crescente de cafés espeiciais

Arina Ospanova é coproprietária da cafeteria What Flat em Almaty. Ela conta que a primeira torrefação de cafés especiais veio da Rússia para Karaganda, no Cazaquistão, em 2009. “Agora, há um número crescente de torrefações de cafés especiais no Cazaquistão, especialmente em Almaty e Astana (Nur-Sultan)”, diz. 

“As pessoas estão cada vez mais curiosas e querem experimentar variedades diferentes. No What Flat, os consumidores tendem a apreciar mais os cafés quenianos e colombianos, juntamente com os cafés etíopes como café espresso. Há também uma grande demanda por blends de arábica e robusta“, continua ela.

Aigerim Yermakhanova é a primeira Q grader certificada do Cazaquistão. Ela também é treinadora de baristas e especialista em controle de qualidade na Spectre Coffee em Almaty. De acordo com ela, os cazaques geralmente bebem café com leite, da mesma forma que bebem chá. “A maioria do café consumido no país é instantâneo, no entanto, as preferências dos consumidores estão evoluindo – mais pessoas estão bebendo café especial, torrado e moído”, ela afirma.

“Isso é impulsionado, na maioria, pelo crescente número de cafeterias no país, que oferecem diferentes perfis e origens de torrefação”, acrescenta. “Por sua vez, a conscientização do consumidor sobre o café de alta qualidade está crescendo. Muitos consumidores de café gostam de cafés lavados, mas também estão abertos a experimentar métodos de processamento diferentes e novos.”

Almaz Ospanov também é sócio da What Flat. E, segundo ele, os cafés processados experimentalmente estão se tornando bastante populares. “Os clientes perguntam sobre eles com frequência. Os cafés processados naturais também são favoritos entre os consumidores”, diz.

Quem bebe mais café no Cazaquistão?

Stanislav explica que, como em muitos outros mercados emergentes de cafés especiais, a população mais jovem e os turistas estão ajudando a cultivar a cultura de cafés especiais no Cazaquistão. “No entanto, pessoas de todas as idades estão lentamente se interessando por cafés especiais”, diz ele.

“Minha cliente mais antiga é Nina Vasiliyevna, que tem 81 anos. Seu genro a apresentou ao café especial – ela provavelmente é a usuária de V60 mais antiga do Cazaquistão! Eu a ensinei a usar o V60 e seguir a receita de James Hoffman, e ela tem usado com diligência todos os dias”, acrescenta ele.

Nina Vasiliyevna, cliente de uma torrefação cazaque, preparando café

Nina explica por que gosta de preparar e beber café. “Adoro os cafés quenianos que recebo de Stanislav”, diz ela. “Eu sempre costumava beber chá, mas desde que fui apresentado ao café, isso me deixa feliz e me dá mais energia.”

Semelhante a Nina, há um número crescente de baristas profissionais e caseiros no Cazaquistão. Nos últimos anos, tornou-se mais fácil comprar equipamentos e métodos de extração, e o acesso a recursos online tornou-se mais disponível.

Stanislav explica que as mídias sociais desempenham um papel fundamental na disseminação de informações e inspiram mais curiosidade. “A Massimo Coffee é o único fornecedor oficial de produtos AeroPress, Hario, Espro e Comander no Cazaquistão”, diz ele. “Estamos vendo um grande aumento no número de pedidos desses produtos, e cerca de 40% de nossas vendas são para perfis de torra para filtro.”

Como é ser barista no Cazaquistão?

À medida que a cultura do café muda no Cazaquistão, é provável que também vejamos o papel do barista evoluir. Muitos profissionais do café cazaque acabam se mudando para o Oriente Médio ou Austrália para treinar. Quando voltaram ao Cazaquistão, alguns deles abriram suas próprias torrefações ou cafeterias.

Rauan Zhumazhanov (também conhecido como o “Barista de uma mão”) é um profissional do café no Cazaquistão. Ele conta que trabalhou no Cazaquistão durante quatro anos, até se mudar para Dubai. Lá ficou por mais cinco anos e então voltou para o Cazaquistão. “Ganhei o Campeonato Regional de Latte Art em Dubai sete vezes e também sou o Campeão Cazaque de Latte Art de 2019, bem como o Campeão AeroPress dos Emirados Árabes Unidos de 2019 – adoro o que faço”, diz.

No entanto, ainda não ser barista ainda não é considerado uma carreira de longo prazo para muitos no país. “Como em muitas outras partes do mundo, ser barista não é considerado uma meta de carreira aspiracional no Cazaquistão”, diz Almaz. “É visto principalmente como um trabalho para os alunos, enquanto as torrefações são geralmente considerados semelhantes a qualquer outro negócio.”

Foco na educação

Wendelien van Bunnik é a Campeã Mundial da AeroPress de 2019 e fundadora da The Happy Coffee Network. Recentemente, ela visitou o Cazaquistão para sediar um workshop de preparo de café da AeroPress. Ela conta que conhecer a comunidade cafeeira local tem sido um dos destaques de sua carreira. “O setor de cafés especiais do país ainda é jovem, mas posso sentir uma ânsia e curiosidade de aprender mais que não vejo há muito tempo”, acrescenta.

Além de eventos como este, os recursos online são uma parte fundamental do crescente interesse na educação sobre cafés especiais. “O treinamento de baristas acontece principalmente no trabalho, mas a internet tem sido um recurso útil e nos ajudou a nos conectar com profissionais do café em todo o mundo”, diz Arina.

Rauan concorda, dizendo: “Aprendo muitas habilidades de barista com cursos e vídeos online, especialmente como servir latte art.”

Embora o Cazaquistão ainda não tenha aberto um campus de formação reconhecido da Specialty Coffee Association, alguns dos profissionais e entusiastas do café do país viajam para a Rússia ou Turquia para se tornarem profissionais capacitados certificados pela SCA ou Q gradeers. Além disso, há um número crescente de escolas de baristas e centros de formação abertos em Astana (Nur-Sultan) e Almaty.

Baristas cazaques participando de um campeonato informal

O que o futuro reserva?

Embora o setor de cafés especiais do Cazaquistão permaneça pequeno, é claramente um mercado com grande potencial. Com um número crescente de turistas e estrangeiros vivendo no país a cada ano, espera-se que a cultura do café especial se torne mais popular.

O clima político atual traz desafios, no entanto. Com a guerra na Ucrânia, o fornecimento de café tem sido difícil – mas também inspirou mais torrefadores a comprar grãos diretamente dos países produtores.

“No passado, as condições sociais e políticas no Cazaquistão foram desafiadoras, como os tumultos em 2021 que impactaram muitas empresas”, diz Stanislav. “No entanto, o governo apoia o setor zerando taxas de importação para o café verde e alíquota reduzida de IVA.”

As competições de café também estão se tornando mais populares, com cafeterias e torrefações locais em Almaty e Astana (Nur-Sultan) lançando seus próprios concursos de barista, latte art e preparo. E embora não haja campeonatos formais de café no Cazaquistão hoje em dia, isso certamente pode mudar no futuro.

Barista despejando leite para o preparo de uma bebida durante competição informal no Cazaquistão

O Cazaquistão certamente continua longe de se tornar um grande país consumidor de café. Seu setor de cafés especiais também continua em sua infância, mas isso não quer dizer que não se tornará mais popular nas próximas décadas.

Com uma ênfase crescente na educação e nas competições de café, será interessante ver como a cultura do café do Cazaquistão evoluirá nos próximos anos.

Gostou? Então leia nosso artigo sobre a cena do café na Ucrânia.

Crédito da foto: Dalla Corte, Brew Battle, Kristine Karpeka

Tradução: Daniela Melfi. 

PDG Brasil

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